Existe muita discussão se os treinadores deveriam ou não deixar os clubes em momentos tão importantes e estratégicos numa temporada, principalmente se forem treinadores jovens e promissores. A justificativa por parte dos que defendem essas saídas é uma só: oportunidade.
Ontem, dia 9 de novembro de 2020, Rogério Ceni deixou o Fortaleza para comandar o time do Flamengo. Para muitos torcedores e jornalistas fez o correto, aproveitou a oportunidade para treinar o melhor elenco da América do Sul, com reais chances de conquistar vários títulos importantes, repetindo o excelente desempenho do ano anterior, quando o time rubro-negro foi comandado pelo português Jorge Jesus.
Chegada de Rogério: aeroporto do Rio e torcida do Flamengo em festa.
Em 2019 Rogério fez igual, deixou o mesmo Fortaleza para treinar o Cruzeiro. Nas duas oportunidades o Campeonato Brasileiro encontrava-se numa fase bem avançada e o Fortaleza vinha numa campanha sólida, mérito do treinador. Inclusive, o clube cearense ficou a uma posição de disputar a “Seletiva” da Libertadores para a Fase de Grupos em 2019, ano em que o clube celeste foi rebaixado pela primeira vez em sua história. Rogério não estava mais no Cruzeiro, já tinha sido demitido. Ficou no comando apenas 8 jogos, exatos 46 dias e depois retornou ao Fortaleza.
Todo esse “vai e vem” não é exclusividade do ex-goleiro multicampeão do São Paulo. No Brasil a profissão de treinador ou técnico de futebol (há uma confusão de terminologia e função dos cargos no país) sofre muita pressão por parte dos torcedores e, geralmente, os dirigentes dos clubes cedem à pressão popular demitindo seus treinadores após uma sequência de derrotas ou uma eliminação em competições no formato mata-mata, mesmo que o time se encontre entre os melhores ou mais bem posicionados nas tabelas de outros campeonatos.
Abaixo os agradecimentos do Fortaleza à Ceni e um fato importante: o treinador ao sair levou junto toda a comissão técnica do clube:
Rogério Ceni não é mais treinador do Fortaleza. Agradecemos o trabalho realizado e desejamos sucesso em seu próximo desafio. Os auxiliares, Charles Hembert e Nelson Simões, e o preparador físico, Danilo Augusto, também deixam o Tricolor. pic.twitter.com/ag1ygBRWNg— Fortaleza EC ⭐️ (@FortalezaEC) November 10, 2020
Entretanto, existe um paradigma nesse cenário de saídas e chegadas de treinadores: essa mesma atitude – sair de um clube em qualquer momento da temporada – também reforça a insegurança nos seus contratos de trabalho, já que os impedem de implementarem suas filosofias e mais, validarem suas convicções, colhendo os resultados da fase inicial ou da primeira temporada. Jürgen Klopp e “Pep” Guardiola são bons exemplos dessa dinâmica, pois não conquistaram nenhum título em suas primeiras temporadas no Liverpool e Manchester City, respectivamente, foram colher os frutos depois e hoje estão inseridos totalmente na história dos clubes onde trabalham.
Jürgen Klopp campeão no Liverpool após duas temporadas.
Pep Guardiola no City: respeito e admiração dos torcedores.
Retornando ao Brasil, a questão ou argumentação “oportunidade” parece ser o suficiente para justificar as saídas desses profissionais dos clubes “menores” para os clubes “maiores”, mas quando a transação envolve dois gigantes do futebol, aí a história muda e a questão “ética” é colocada em destaque nas pautas e mesas redondas, passa a ser prioridade.
Precisamos amadurecer mais essa discussão e mergulhar fundo na relação “ética x oportunidade“, pois a primeira não pode ficar sujeita à segunda, na verdade não deveria se submeter a nenhum outro tipo de situação, mas a realidade brasileira é dura, inconstante e traiçoeira, e não podemos ser ingênuos e não mensurar tais circunstâncias nas situações que passamos pela vida, tomando o cuidado de não usar a segunda como muleta ou atalho para nossas decisões e objetivos de vida e carreira.
Fonte: FutBox
Port publicado em novembro 27, 2020
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